
Desde cedo, tenho uma relação muito próxima com o mundo do vinho. Sou ítalo-brasileira e a minha paixão por vinhos veio do meu pai que estava sempre à mesa com a família e não podia faltar um copo de vinho e muitas histórias. Parte da família produz vinho na Região da Emília Romagna na Itália. Com essa forte referência meu interesse pelos vinhos foi crescendo à medida que conhecia mais esse universo maravilhoso.
Comecei participando de confrarias de degustações, primeiro de forma tímida só entre amigas, sem a preocupação de degustar a bebida de forma técnica; era pura diversão e prazer. Com o passar do tempo a paixão tornou-se assunto sério e resolvi estudar e aprofundar meus conhecimentos com cursos e degustações com profissionais da área. Outro fator que sempre me motivou profundamente foram as viagens exclusivamente para conhecer vinícolas pelo mundo, e, é claro, a cada visita a percepção da crescente participação e influência das mulheres, dos vinhedos à adega.
Essa constatação, mesmo que modesta, torna-se clara quando nos deparamos com mulheres no comando dos negócios. Em uma sucessão natural elas assumem os negócios da família e, muito bem preparadas, estão mostrando que aliar sensibilidade e delicadeza faz muito bem para os negócios.
Então, é claro que o mercado de vinhos está de olho no público feminino, e não é para menos. Pesquisas indicam que as mulheres se tornaram consumidoras exigentes, e muitas delas, responsáveis pela escolha dos vinhos na hora da compra. Também houve um aumento na criação de associações e confrarias formada exclusivamente por mulheres em diversas partes do mundo.

Em uma de minhas viagens à Itália conheci diversas vinícolas comandadas por mulheres, e percebi o comprometimento e paixão, sem esquecer a delicadeza que move essas mulheres na busca de grandes resultados. Esse é o caso de Donatella Cinelle Colombini, considerada a grande senhora dos Brunellos de Montalcino, que possui duas vinícolas, sendo uma delas, a Casato Prime Donne onde só trabalham mulheres. Donatella é presidente da maior associação de mulheres que atuam no negócio de vinho na Itália, a Associazione Nazionale Le Donne Del Vino, fundada em 1988, e que conta com 700 mulheres que representam todas as categorias de profissionais que lidam no negócio de vinho.

A Casato Prime Donne está situada nas colinas de Montalcino, um belo projeto criado por Donatella, onde todo o staff é composto por mulheres que são responsáveis por todos os processos de produção, e, podemos dizer que é uma característica única e peculiar na Itália. Uma bandeira muito justa de valorização e do protagonismo do trabalho feminino no competitivo mundo do vinho.
Visitar a vinícola e também um deleite para os amantes das artes. Por onde se olha tem obras de arte compondo um cenário único. A iniciativa de Donatella que a mais de duas décadas criou o Prêmio Prime Donne para valorizar e reforçar o papel das mulheres na sociedade. Ao longo dos anos, o Prêmio tem desempenhado um papel importante para estimular e incentivar profissionais do sexo feminino, nas mais diversas áreas de atuação, premiando mulheres que se distinguem na sociedade, pela coragem, comportamento ético e modelo de força e determinação para outras mulheres.

Na história do vinho, mulheres de fibra deixaram sua marca e construíram impérios numa época em que o negócio do vinho era tradicionalmente masculino. Faço jus à história destacando, Dona Antònia Ferreirinha de Portugal, Nicole-Barbe Clicquot-Ponsardin, a veuve Clicquot, (ambas fizeram história no sec. XIX), Madame Lily Bollinger, que durante a ocupação nazista na França (1941) precisou lutar para manter seu negócio. A influência dessas grandes mulheres revolucionou diversos conceitos e modelos ultrapassados e foi absolutamente libertador para as mulheres que nos dias atuais estão se empoderando em diversas áreas, inclusive no mercado do vinho, que a cada dia tem mais participação feminina.
Sueli Maestri é fundadora e editora do portal Vinho Capital