Enólogo Enrique Tirado extrai o melhor de Puente Alto para revelar a cada ano a melhor expressão da Cabernet Sauvignon e criar Don Melchor 2019
Quando se conquistam 100 pontos junto a renomados críticos internacionais, caso da safra 2018 de Don Melchor, cresce o desafio de Enrique Tirado, enólogo e diretor técnico do vinhedo homônimo, no Vale do Maipo, Chile em manter esta excelência e trazer para a nova safra características exuberantes e únicas, comuns aos grandes tintos feitos com a Cabernet Sauvignon. “Empregar todo conhecimento e tecnologia como ferramentas para alcançar uma melhor compreensão de todas as etapas que compõem a produção de Don Melchor, e principalmente, observar e sentir cada planta e vinho é o que nos permite conseguir o equilíbrio perfeito em cada safra”, comenta Tirado.
Puente Alto, o terroir onde o vinho é cultivado, é responsável por boa parte do sucesso das safras Don Melchor, mas existem outros percalços desafiadores a serem percorridos pela equipe de Tirado: do momento do plantio, à colheita, escolha das parcelas e do percentual de cada variedade que irá compor o novo vinho, provas e mais provas, até o envase, tudo é minuciosamente observado. É com desempenho “cirúrgico” que Enrique Tirado acompanha todas as fases da produção, fato que se repete a cada ano. Não poderia ser diferente com a safra 2019. “Don Melchor significa para mim a busca constante da melhor expressão de cada parreira dentro do vinhedo, para assim obter em cada vindima a beleza do equilíbrio do terroir de Puente Alto”, comenta o enólogo.
A maestria do ofício
Toda nova safra de Don Melchor começa seu desenvolvimento no inverno anterior, quando cada vinha é moldada através de uma poda cuidadosa, buscando o equilíbrio em cada planta. Posteriormente, após um longo período de crescimento e maturação, com o máximo cuidado e monitoramento de cada planta durante toda a temporada, chega-se à colheita, momento quando os cachos iniciam sua transformação em vinho. A cada ano, o enólogo Enrique Tirado percorre o vinhedo, checando fileira por fileira a maturação dos cachos para definir o momento exato no qual a uva deve ser colhida. A vindima de Don Melchor é determinada após a degustação e a realização de análises específicas das uvas de cada lote.
As frutas são colhidas manualmente, entre meados de abril e princípio de maio e apenas aquelas bagas de uva maduras, intactas e saudáveis são selecionadas para a fermentação em tanques de aço inoxidável. Os 151 lotes do vinhedo de Don Melchor são vinificados buscando manter a expressão única e particular destes, com especial cuidado com a temperatura e as remontagens de cada tanque para extrair cuidadosamente a cor e os taninos das cascas e sementes da uva. Após a fermentação alcoólica, uma delicada maceração acontece para terminar de extrair todo o corpo e os sabores do vinho.
Depois da fermentação e maceração, realiza-se a descuba dos tanques para obter os vinhos de gota. Posteriormente, cascas, sementes e outras partes sólidas são cuidadosamente prensadas em prensas verticais para a obtenção de excelentes vinhos que contribuirão para a mistura final.
“Uma nova safra de Don Melchor nasce quando damos forma à arquitetura do “assemblage”que irá compor o vinho, proveniente principalmente dos diferentes Cabernet Sauvignon dos distintos lotes do vinhedo e, em alguns anos, com pequenas participações de outras variedades do vinhedo: Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot, para aumentar a complexidade do blend final”, explica Tirado. Assim, todos os anos no povoado de Lamarque, Bordeaux, na França, o enólogo se reúne com Eric Boissenot – filho do renomado consultor bordalês Jacques Boissenot – para degustar entre 150 e 200 lotes de vinhos do vinhedo, selecionando apenas aqueles que, na proporção exata, definirão uma nova safra de Don Melchor.
Uma vez definida a mescla, a nova safra de Don Melchor é transferida para barris de carvalho francês dos bosques de Allier, Tronçais e Nevers. Cerca de dois terços dos barris são novos e o terço restante já foi usado anteriormente. Após um período de 14 a 15 meses, o vinho é engarrafado e continua seu envelhecimento por mais um ano, desenvolvendo assim a complexidade e a elegância próprias de Don Melchor.
Puente Alto
O Vale do Maipo é a região vitivinícola de maior prestígio do Chile e dentro dele encontra-se a denominação de origem Puente Alto, lar do vinhedo Don Melchor, o qual tem desempenhado um importante papel na história moderna do vinho chileno. Localizado aos pés da Cordilheira dos Andes, no terraço norte do Rio Maipo – a 650 metros acima do nível do mar – em uma das zonas mais frias dentro do Vale do Alto Maipo. Marcada por um clima mediterrâneo semiárido, com uma temperatura média anual de 14,4 °C e uma pluviometria média de 335 mm., o vinhedo está plantado com variedades francesas pré-filoxera que foram importadas da França em meados do século XIX.
Uma das qualidades mais importantes do vinhedo corresponde às características de seu solo: pobre em nutrientes e, ao mesmo tempo, de constituição diversa, está composto por argila, limo, areia, cascalho e pedras de maior tamanho arredondadas produto da erosão milenar causada pelas geleiras que avançaram desde as montanhas em direção ao vale, arrastando material que logo deu origem aos terraços. Estes solos garantem uma boa drenagem e uma baixa fertilidade, o que ocasiona uma restrição no crescimento vegetativo das plantas, favorecendo a concentração e o amadurecimento natural dos cachos.
A majestosa Cordilheira dos Andes constitui outro elemento crucial neste extraordinário terroir. Devido à influência fria, que se manifesta sob a forma de ventos frescos que descem desde a cordilheira principalmente à noite e que geram uma grande amplitude térmica entre o dia e a noite durante o período de amadurecimento, a maturação ocorre de forma lenta e homogênea junto com a conservação de uma acidez precisa, fruta vermelha fresca e uma maior concentração de cor, aromas e sabores nos cachos.
O vinhedo está formado por 127 hectares, dos quais 90 % correspondem a Cabernet Sauvignon, 7,1 % a Cabernet Franc, 1,9 % a Merlot e 1 % a Petit Verdot. Fruto de uma extensa investigação do terroir de Puente Alto, o vinhedo está subdividido em sete lotes principais de Cabernet Sauvignon e pequenos lotes de Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot. Cada um deles, por sua vez, foi dividido em porções menores, gerando 151 lotes no vinhedo de Don Melchor
“O estilo, a complexidade e a fineza de Don Melchor nascem do perfeito equilíbrio entre o solo pedregoso de Puente Alto, o vento frio que desce da Cordilheira dos Andes, o generoso clima do Vale do Alto Maipo, os anos que suas parreiras demor- aram para oferecer suas melhores uvas e o cuidadoso trabalho no vinhedo”, complementa Enrique Tirado.
Em termos de precipitações, a temporada correspondeu a um ano seco, com um total de 161,6 mm de chuva entre maio de 2018 e abril de 2019, concentrados principalmente nos meses de inverno. “Esta menor reserva de água nos solos nos obrigou a antecipar a irrigação no final do inverno e, desta forma, garantir uma boa reserva hídrica nos solos. As temperaturas entre maio e outubro de 2018 foram mais baixas do que as médias históricas. Posteriormente, os meses de novembro e dezembro foram mais quentes, seguido por uma queda das temperaturas em janeiro de 2019 e de um mês de fevereiro cálido. Para terminar a temporada, os meses de março e abril foram mais frios do que o normal”, informa o enólogo.
Os vinhos resultantes são muito expressivos, cheios de concentração, densos e longos, com destaque para a expressão de fruta e a qualidade das texturas obtidas em todas as variedades do vinhedo de Don Melchor. Os diferentes lotes de Cabernet Sauvignon mostram uma excelente qualidade em termos de expressão e requinte nas texturas, de personalidade intensa o que nos permite adiantar a safra 2019 como um fantástico e excelente Don Melchor.
Sobre Enrique Tirado
É uma das figuras mais influentes do cenário vitivinícola nacional. Responsável pela direção técnica de Don Melchor desde a safra de 1997, o primeiro vinho ícone chileno e uma verdadeira referência da cepa em nível mundial. Além disso, desde 2019 assumiu a Gerência Geral da Viña Don Melchor, enfrentando este importante desafio através de sua profunda experiência e capacidade para liderar esta empresa. Engenheiro agrônomo com menção em enologia pela Universidade Católica do Chile, uma de suas qualidades mais distintivas é a extraordinária sensibilidade enológica, rigor e meticuloso trabalho na direção de Don Melchor.
Junto com seu excepcional trabalho a cargo de Don Melchor, Enrique Tirado participa ativamente da Viña Almaviva, aliança estratégica entre a adega francesa Barão Philippe de Rothschild e a Concha y Toro, primeiro como enólogo adjunto com Patrick León, depois como diretor da vinícola e, atualmente, como parte de seu comitê técnico. Ao mesmo tempo, como tem sido desde o início de Don Melchor em 1987, Enrique tem trabalhado em conjunto com o reconhecido consultor francês Jacques Boissenot, consultor dos mais renomados Châteaux de Bordeaux, no processo de definição do blend final do vinho. Hoje é Eric Boissenot quem continua o legado de seu pai e colabora com Enrique Tirado neste processo.
Ficha técnica Don Melchor 2019
2019 Vintage
D.O. Puente Alto, Vale do Maipo
Cepas: 92% Cabernet Sauvignon, 5% Cabernet Franc, 2% Merlot, 1% Petit Verdot
Teor Alcóolico: 14,8%
Envelhecimento: 15 meses em barris de carvalho francês (72% novos e 28% de segundo uso)
Potencial de guarda: Mais de 35 anos.
Notas de degustação
De cor vermelha violácea profunda. O vinho desta safra mostra extraordinária elegância e fruta vermelha fresca em abundância, além de notas florais e de groselha.
Em boca apresenta enorme riqueza de sabores, com amplitude do princípio ao fim e muita energia em perfeito equilíbrio com a fineza das texturas e dos sabores.
Harmonização
Carnes vermelhas, especialmente de cordeiro, e carnes de caça silvestres preparadas de diferentes maneiras: assadas, em guisados, em pratos com molhos de vinho tinto, cogumelos, alecrim e tomates, entre outros. Diferentes terrines e patês, especialmente de pato com trufas. Queijos de vaca ou de cabra, queijos secos e maturados, ou queijos cremosos.