05/09/2018. Crédito: Fernando Pires/Esp. Encontro/D.A. Press. Cyro Júnior no contâiner de vinhos da Del Maipo.

Carga tributária: o lado amargo do vinho

Cyro Júnior no contâiner refrigerado de vinhos franceses

Não é segredo para ninguém que a carga tributária, a burocracia, e outros fatores indiretos impactam enormemente na composição do preço final do vinho. Bem  antes de encher a taça do consumidor brasileiro, muitas cifras são acrescentadas ao custo final de uma garrafa de vinho. O Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) aponta que,  somando ICMS, IPI, COFINS, PIS e ainda encargos relacionados à cadeia produtiva vitivinícola, uma média de 74% do custo final de um vinho importado corresponde somente a  tributos, e piora ainda mais com os elevados custos de fretes, o que faz com que o vinho importado chegue as prateleiras com o preço bem salgado. O que gera, alto preço, redução no consumo.

Para entender melhor o impacto da tributação no preço final do vinho, conversei com quem entende do assunto, e vive diariamente a realidade do desafio de trabalhar com importação de vinho: Cyro Torres Júnior, que é diretor da Del Maipo, uma importadora genuinamente brasiliense, fundada em 2003, que tem como sócio Gilberto Avelar. Juntos, administram a Del Maipo, que se destaca como uma das maiores importadoras do país. 

Vinho Capital: Em tempos de crise, como anda o mercado de vinhos importados no Brasil:

Cyro Júnior: Não nos acomodamos diante da crise! Estamos observando o cenário com preocupação e cautela,  mas sem nos abater. Tratando-se da Del Maipo, estamos numa ascendente de crescimento pelo quarto ano consecutivo. Crescimento modesto, mas, contínuo diante da conjuntura econômica.

Vinho Capital: Quais estratégias de mercado você tem aplicado para driblar a crise?

Cyro Júnior: Temos buscando entender melhor o consumidor, suas necessidades e expectativas, e, baseado nesses aspectos traçamos nossas estratégias comerciais. Estamos aumentando nosso portfólio, inovando  e diversificando nossos produtos, mas tudo isso com muito critério. Não dá para atuar nesse mercado competitivo sem o cuidado necessário, e a busca constante por novidades no segmento mundial de vinho, importados. Nossa busca por novos produtos passa necessariamente por escolhas de empresas com histórias, tradição e valorização do produto produzido.

Vinho Capital: A Del Maipo  foi a primeira importadora da capital. Quando estreou no mercado participa ativamente das grandes feiras de vinhos, como a Expovinis. Porque deixaram de participar?

Cyro Júnior: Realmente participávamos de muitas feiras e com grandes estandes, mas, por questões de estratégias da empresa, optamos por focar em feiras privadas, como a “Del Maipo Tasting”, que na minha opinião funcionam melhor no aspecto de retorno de resultados e de visibilidade para a empresa.

Vinho Capital:  Como importador, você está sempre viajando em busca de novidades para compor o portfólio, visitando propensos fornecedores, participando de feiras internacionais. Como é a logística dessa grande maratona?

Cyro Júnior: Geralmente costumo separar um semestre do ano para essas atividades. Viagens para participar das feiras internacionais como a ProWein em Düsseldorf, Vinitay em Verona, a Vinexpo em Bordeaux, dentre outras. Com relação às feiras, otimizo meu tempo, procurando ter foco e objetivos definidos em cada evento. Dentro dessa premissa procuro analisar os produtores com um mês de antecedência, e se sobra tempo, vou atrás de novidades. Na Del Maipo temos uma prática de conduta na  escolha dos produtos que inserimos em nosso portfólio. Visito os produtores pessoalmente em suas vinícolas, faço questão de conhecer a reputação e história de cada fornecedor. Considero muito importante essa avaliação, e creio que é isso que faz a diferença dos nossos produtos.

Vinho Capital: No mercado de vinhos finos, vocês tem uma coleção invejável. Ainda se vende vinhos caros e cobiçados em tempos de crise?

Cyro Júnior: A resposta é sim! Mas nos últimos anos houve uma mudança grande no comportamento dos consumidores, e para atender essa nova tendência a Del Maipo tem buscado principalmente em Bordeaux os seconds vins, que são cuidadosamente elaborados por renomados enólogos, com a preocupação de manter a personalidade e caráter do terroir em seus segundos vinhos, com fazem com  um grand vin.  Estamos negociando com  grandes chateaus para trazer vinhos exclusivos para o Brasil, aliando qualidade e preços justos.

Vinho Capital: A Del Maipo importa muito vinho da Espanha e Chile, isso significa uma preferência pessoal ou facilidade de exportação?

Cyro Júnior:  Quanto aos vinhos espanhóis, posso dizer que, muito além de gosto pessoal são vinhos de alta qualidade com excelente custo benefício, e, é o terceiro em volume de negócios aqui na importadora;  o Chile é um dos principais exportadores da América do Sul, e o consumo por aqui é considerável por ser um vinho muito apreciado pelos brasileiros.  Também tem a Argentina produzindo vinhos de muito expressão, como os do enólogo Marcelo Pelleriti, que tem em seu currículo nada menos que 100 pts de Robert Parker. Contamos com média de 65 rótulos só de vinhos italianos em nosso portfólio, prestigiando regiões de norte a sul da Itália. Não deixamos de fora os excelentes  vinhos de Portugal, África do Sul, USA com destaque para os californianos, dentre tantos outros;  agora, estamos focando nos grandes vinhos de Bordeaux.

Vinho Capital: Sobre as facilidades de importação – se é que exista alguma – é do país ou do produtor?

Cyro Júnior: A questão da importação para o Brasil tem sua complexidade e não dá para falar que existam facilidades, pois esse é um setor repleto de normas e legislações complexas que devem ser cumpridas integralmente.

Vinho Capital: Os custos de importação, oneram indiscutivelmente os preços do vinho em percentuais exorbitantes. Como lidar com a alta carga tributária de importação e tantos entraves burocráticos que aumentam essa conta?

Cyro Júnior: A altíssima carga tributária é um dos gargalos;  tem ainda uma série de questões que impactam muito, como a morosidade do processo de importação, custos de armazenamento adequado quando necessário; os fretes  marítimos e terrestres dentro do Brasil, que tornam a logística uma das mais caras do mundo. E é verdade que a burocracia acaba entrando nessa conta onerando os custos finais, tais com a obrigatoriedade de apresentação de  Certificados de Origem e de Análise, que são expedidos pelo país de origem do produto a ser importado,  por órgãos oficiais,  análises de controle do Ministério da Agricultura aqui no Brasil; tudo isso torna o desembaraço aduaneiro por vezes muito desgastante e caro.

Por: Su Maestri

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