O engenheiro e especialista em vinhos Rodrigo Sitta, pesquisador do consumo mundial de vinhos nos traz mais uma edição atualizada desse movimento global, contendo dados estatísticos referentes a produção e consumo mundial de vinhos em 2022. Vamos conferir:
Os dados foram apresentados pela OIV- Organização Internacional da Vinha e do Vinho em abril de 2023, com a divulgação do relatório com as estimativas da produção e do consumo mundial de vinhos em 2022. O relatório preliminar foi apresentado pelo Diretor Geral da entidade, o espanhol Pau Roca Blasco, diretamente da sede da OIV em Paris, por videoconferência na web.
O ano de 2022 foi marcado pela inflação elevada, pela crise energética causada pelo conflito na Ucrânia e pelas interrupções na cadeia de abastecimento global. Neste contexto, muitos mercados registaram aumentos significativos nos preços do vinho que levaram a uma ligeira diminuição dos volumes consumido em todo o mundo. O valor global das exportações mundiais de vinho é o mais elevado já registrado.
Produção Mundial
A produção mundial de vinho em 2022, excluindo sumos e mostos, está estimada em 258 Mhl, marcando uma diminuição de quase 3 Mhl (-1%) em comparação com 2021. Isto se deve ao volume de colheita superior ao esperado na Europa e nos EUA (apesar da seca e das ondas de calor durante primavera e verão) e nível médio de produção registrado no Hemisfério Sul. No geral, em 2022 as condições climáticas foram secas e quentes.
Com isso, a produção mundial de vinho mantém-se estável em torno de 260 milhões de hectolitros pelo quarto ano consecutivo, apenas ligeiramente abaixo da sua média de 20 anos.
Vale lembrar que um hectolitro representa 100 litros ou o equivalente a pouco mais de 133 garrafas padrão de 750 ml. Transformando em garrafas, a produção mundial estimada de 2022 é de 34,3 bilhões de garrafas.
Na sequência, a tabela completa dos maiores produtores mundiais.
Itália (49,8 milhões de hl), França (45,6 milhões de hl) e Espanha (35,7 milhões de hl), respondem juntas por 51% da produção mundial de vinho em 2022. Entre estes três principais produtores de vinho, a Itália está relativamente estável em termos de produção de vinho, com -1% em comparação com 2021 e +2% em relação a sua média dos últimos cinco anos. A França, por outro lado, regista um aumento na produção de vinho não só em comparação com o baixo volume de 2021 (+21%), mas também em relação à média dos últimos cinco anos (+7%). Apesar da seca e do acesso limitado à água em muitas regiões, a produção de vinho da Espanha em 2022 estabilizou em +1% em comparação com 2021, mas está 5% abaixo da média dos últimos cinco anos.
A produção vinificada na UE em 2022 foi de 161,1 Mhl, o que representa um aumento de 4% em relação a 2021 e está em linha com a média dos últimos cinco anos.
Na Ásia, estima-se que o nível de produção de vinho da China em 2022 atinja um nível de 4,2 Mhl, marcando uma redução de 29% em comparação com 2021. A produção de vinho chinesa tem diminuído sistematicamente na última década.
Na América do Norte, em virtude dos danos causados pelas geadas precoces, das condições semelhantes às da seca no verão e à consequente falta de abastecimento de água em certas regiões vinícolas, a produção de vinho nos EUA em 2022 é estimada em 22,4 Mhl, um nível 7% inferior ao de 2021 e 9% inferior a sua média de cinco anos.
A maioria dos países produtores de vinho da América do Sul registou uma queda na produção em relação a 2021. O Chile é o maior produtor na América do Sul em 2022, com a produção de vinho atingindo o pico de 12,4 mhl, 7% abaixo da produção excepcionalmente alta do ano passado (mas 7% acima da média dos últimos cinco anos). A Argentina regista uma diminuição na sua produção de vinho, atingindo 11,5 Mhl em 2022. Isso representa uma queda de 8% em relação a 2021 e de 9% na comparação à sua média dos últimos cinco anos, devido a condições climáticas (geadas, fortes chuvas, etc.).
A produção de vinho da África do Sul em 2022 é de 10,2 Mhl, uma diminuição de 6% em comparação com o nível de 2021. O volume de 2022 voltou à média dos níveis de produção registados antes do início da seca que, a partir de 2015, impactou fortemente a produção vitivinícola do país por vários anos consecutivos.
Na Oceania, a Austrália em 2022 produz 12,7 Mhl (-14%/2021). Depois de uma produção muito baixa em 2020 devido a condições de seca, incêndios e danos causados pela fumaça em algumas regiões vinícolas, e uma recuperação em 2021, 2022 está em linha com a média dos últimos cinco anos. A Nova Zelândia produziu um nível de 3,8 Mhl em 2022 (+44%/2021). Embora em 2021 a Nova Zelândia tenha sido o único grande país do Hemisfério Sul a ter uma colheita de uvas para vinho abaixo da média, em 2022 regista um nível recorde de produção de vinho. Uma mistura de excelentes condições climáticas e alta a demanda internacional certamente contribuiu para este volume de colheita historicamente elevado.
Consumo Global
O consumo mundial de vinho em 2022 é estimado em 232 Mhl, marcando uma diminuição de 2 MHL (-1%) em relação a 2021. A partir de 2018, o consumo global de vinho diminuiu em um ritmo regular. Esta tendência negativa pode ser atribuída principalmente ao declínio do consumo da China, que perdeu em média 2 Mhl por ano desde 2018. Esta tendência decrescente foi acentuada em 2020 pela pandemia de Covid19, que trouxe um forte efeito em muitos dos grandes mercados de vinho. O consumo foi atingido pelas medidas de confinamento, pela perturbação do canal HoReCa e uma falta geral de turismo. Em 2021, o levantamento das restrições à circulação de pessoas e mercadorias, a reabertura do canal HoReCa e a retoma dos convívios e celebrações contribuíram, como previsto, para o aumento do consumo na maioria dos países do mundo. Em 2022, porém, a guerra na Ucrânia e a crise energética associada, juntamente com as perturbações da cadeia de abastecimento global levam a um aumento nos custos de produção e distribuição. Isto resultou em aumentos significativos nos preços dos vinhos para os consumidores. Neste contexto, os comportamentos de consumo de vinho a nível nacional têm sido bastante heterogéneos em todos os países e regiões geográficas.
Apesar do vinho ser consumido em 200 países, os 5 primeiros representam exatos 50% do consumo no mundo, enquanto os 10 principais países representam 70% desse consumo em 2022.
A tabela abaixo mostra o consumo dos principais consumidores mundiais:
Os EUA, em 2022, continuam a ser o maior país consumidor de vinho do mundo. Com volume estimado em 34,0 Mhl, seu o consumo aumentou quase 3% em relação a 2021 e agora voltou aos níveis pré-pandemia.
Em 2022, a UE, com uma estimativa de consumo de vinho de 111 mhl, foi responsável por 48% do consumo mundial. Este valor é 2% inferior ao nível estimado em 2021 e coloca o consumo de vinho na UE ligeiramente abaixo da média dos últimos dez anos.
Passando para os mercados asiáticos, o consumo de vinho da China em 2022 foi estimado em 8,8 Mhl, representando uma queda de 16% em relação a 2021. Isto deve-se ao declínio global da procura interna, que teve um impacto significativo na queda do consumo global, conforme mencionado acima. O segundo maior país consumidor da Ásia é o Japão, que se estima ter um nível de consumo de vinho em 2022 de 3,4 milhões de hectolitros (+2%/2021), mas 3% abaixo da média dos últimos cinco anos.
Na América do Sul, o maior país consumidor em 2022 é a Argentina com 8,3 Mhl, o que é 1,3% inferior a 2021.
Na África do Sul, o consumo estimado em 2022 foi de 4,6 Mhl, um aumento de 16% em relação a 2021. Este nível é o de consumo mais elevado já registrado na história.
Na Austrália, o consumo de vinho em 2022 foi estimado em 5,5 Mhl (-3%/2021), queda pelo segundo ano consecutivo e 2% abaixo da média dos cinco anos anteriores.
Em relação ao consumo per capita, Portugal continua sendo o maior consumidor mundial com 67,7 litros/ano por habitante com idade legal para consumir álcool (significativo aumento em relação aos 51,9 litros/ano de 2021). Vale ressaltar que a idade legal varia de acordo com o país. No link abaixo você pode consultar as idades legais ao redor do mundo.
Outro ponto de destaque é que os 6 maiores consumidores mundiais de vinho, na relação per capita, são da UE. Também vale destacar que o maior consumidor mundial de vinhos em litros totais é apenas o 17° colocado nesse critério.
Produção e Consumo no Brasil
Por fim, o Brasil obteve um aumento na produção de vinho em 2022, com um nível de 3,2 Mhl (+9%/2021 e +14%/média de cinco anos). Este volume excepcionalmente elevado se deve aos eventos meteorológicos La Niña. Mesmo com o aumento o Brasil caiu para a 15ª posição no ranking dos maiores produtores do mundo, segundo dados da OIV. Vale ressaltar que o Brasil, em 2021, era o 14º do ranking e em 2020 era 18º do ranking.
Em relação ao consumo de vinhos, o Brasil é o segundo maior mercado da América do Sul, com nível de 3,6 Mhl em 2022, diminuindo seu consumo em 12,9% em relação aos volumes recordes registrados em 2020 e 2021, caindo para 16º lugar no ranking dos maiores consumidores globais (estava no 13º lugar em 2021). Já em relação ao consumo per capita, subimos para o 21° lugar do ranking mas o consumo per capita caiu para 2,1 litros/ano por pessoa com idade legal para consumir álcool (2,4 litros/ano em 2021).
Fontes:
Rodrigo Sitta – Engenheiro Têxtil de formação e especialista em vinhos.
Publicado no site vaocubo.com.br
Clique para acessar o 2023-04_Press_Conf.pdf
https://www.oiv.int/sites/default/files/documents/2023-04_Press_Conf.pdf