O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, depois da água. O crescimento do consumo da categoria especial vem chamando a atenção nos últimos anos pois está atrelado também à procedência e à qualidade do produto. O grão, que vem direto da fazenda e que passa pelo crivo de diversos profissionais até chegar à xícara, está cada vez mais valorizado. Por ser uma cultura perene e de safra anual, a cada ciclo novos consumidores têm acesso e têm se interessado pelos sabores daqueles grãos colhidos na fazenda, com processamentos, variedades e cuidados específicos. O momento agora é de nova safra em todas as regiões do Brasil e os produtores da Fazenda Boa Vista do Anil falam sobre o período.
Mas como o mercado de café chegou a este ponto de alto consumo e interesse do consumidor?
Muitos são os fatores que culminaram nessa realidade atual, mas o principal deles é o desenvolvimento de pesquisas e técnicas no campo que levaram o Brasil a ser essa referência mundial. É importante e essencial para o futuro da cafeicultura resgatar as histórias de quem contribui para esse avanço do mercado de café no mundo.
Hoje queremos te apresentar uma dessas histórias. Ela começa na cidade de Dom Viçoso, localizada na Mantiqueira de Minas, próxima à cidade de Carmo de Minas.
A Fazenda Boa Vista do Anil é um laboratório a céu aberto, com técnicas aprimoradas para o cultivo nas montanhas, com altitudes entre 1.150 e 1.480 metros. Neste ano de 2024 em que os desafios climáticos despontam de forma intensa para todos os cafeicultores, a fazenda destaca-se pelo investimento em cafés especiais e processos aprendidos ao longo dos anos de envolvimento em pesquisa das variedades de café.
HISTÓRIA DO CAFÉ
A história da Boa Vista do Anil começou em 1972 com Fernando Cruz Neto, um dos principais nomes da cafeicultura brasileira. Fernando casou-se com Eneida Carvalho Ferraz e iniciou o primeiro plantio de café em escala comercial do município de Dom Viçoso em sociedade com seu sogro, Pedro Carlos Junqueira Ferraz.
Em 1976, Fernando ingressou no IBC (Instituto Brasileiro do Café), em Belo Horizonte, onde participou do PRRC (Plano de Renovação e Revigoramento da Cafeicultura) juntamente com experientes agrônomos do IAC (Instituto Agronômico de Campinas).
Ao longo dessa jornada foram muitos anos de pesquisa que fizeram o cafeicultor e agrônomo uma referência na produção de café. Após o fim do IBC, em 1992, surge o Procafé – Programa Integrado de Apoio à Tecnologia Cafeeira. Depois a Fundação Procafé foi criada congregando Cooperativas, Sindicatos e Associações de cafeicultores para assumir funções de apoio tecnológico à cafeicultura, com base no acervo do ex-IBC.
“Se hoje temos pesquisas e técnicas avançadas na cafeicultura mundial é porque muito se realizou nas atividades de melhoria da produtividade, competitividade e qualidade do café pelos agrônomos e pesquisadores da Procafé”, destaca Fernando Cruz Neto.
O agrônomo, hoje com mais de 50 anos de experiência nas áreas de pesquisa (IBC-Procafé), traz seu conhecimento sobre os processos realizados na Fazenda para os filhos, essas ações fazem parte da sucessão familiar realizada na propriedade.
NOVO MOMENTO DO CAFÉ
Com a entrada dos filhos na propriedade – tendência que vem ocorrendo no Brasil principalmente nas fazendas que investem no café especial – os irmãos Emília e Cícero Ferraz Cruz deram uma nova cara para a comercialização dos cafés e passaram a vender, além do grão cru, o café também torrado.
Dos talhões de cada área da fazenda são selecionados lotes específicos que formam os diferentes perfis de cafés que são comercializados. Para Emília: “o grande desafio é a cada ano acompanhar as mudanças que certamente ocorrem ano a ano na colheita e separar os melhores cafés para os lotes especiais”, ressalta.
Esse ano, por exemplo, a colheita antecipou nas principais regiões do Brasil, assim como também a maturação foi mais desuniforme devido a fatores como chuvas inconstantes e temperaturas altas. Por isso a importância do desenvolvimento da pesquisa e da busca por variedades de cafés que se adaptam às mudanças ao longo dos anos.
Essas alterações climáticas em todo o mundo também levaram cafeicultores de outros países a enfrentar desafios na produção, o que ocasionou em aumento de custo de produção e também no preço final do produto.
De olho nessas questões, a colheita segue com toda a dedicação e os lotes são separados para formar o cardápio de cafés da fazenda. Os grãos da Boa Vista do Anil são, na sua maioria, de processo natural – quando a casca seca junto com o grão.
“Oferecemos para o público o que a natureza dá naquela safra. Primeiro colhemos os cafés e provamos todos os microlotes. A gente define os perfis sensoriais que serão torrados para o consumidor e a cada ano é uma surpresa e algo diferente que vai de acordo com aquela realidade do que o café e o terroir nos entrega”, explica Cícero.
A proposta das fazendas de cafés especiais é sempre levar o melhor resultado do terroir da região – neste caso a denominação de origem da Mantiqueira de Minas – e escolher os melhores processos na pós-colheita para entregar às torrefações, cafeterias e consumidores.
“Percebemos ao longo desses anos que o consumidor tem buscado tomar cafés especiais com rastreabilidade, procedência e história. Essa sempre foi a nossa missão através da trajetória da nossa família, por isso estamos investindo em entregar esses cafés direto da fazenda para as torrefações, cafeterias e apreciadores”, explica Emília.